Dando continuidade às nossas matérias especiais sobre os serviços públicos de Gastroenterologia do Rio de Janeiro, chegou a vez de mostrar o serviço de Gastrohepatologia do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), situado no Centro do Rio de Janeiro, que conta com uma história muito rica.
Tudo começa no local onde o HFSE está situado, ao lado do Cais do Valongo, um antigo cais que recebia os africanos escravizados e que em 2017 recebeu o título de Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO.
Já o hospital começa a surgir no início de 1934, quando as lideranças do funcionalismo público federal fizeram ver ao Ministro da Fazenda, Osvaldo Aranha, e ao Ministro do Trabalho, Salgado Filho, a necessidade de mais um hospital, uma vez que os servidores civis não contavam com um serviço de assistência. Em 9 de maio de 1934, o presidente Getúlio Vargas assina o Decreto nº 24.217 aproveitando recursos provenientes de sobras de arrecadação junto ao funcionalismo público federal. Tratava-se de um Fundo Especial constituído em 1930, para socorrer e amparar os “sem emprego”, o que caracterizava o espírito de solidariedade humana do funcionalismo público federal. O Presidente da República decide aplicá-lo na construção de um hospital, sob a denominação de Hospital do Funcionário Público Federal. Em 1938, com a criação do IPASE (Instituto de Pensão e Aposentadoria dos Servidores do Estado), que incorporou o hospital, ele passa a se chamar Hospital dos Servidores do Estado – HSE. Após 13 anos da assinatura do Decreto, em 28 de outubro de 1947, dia do Funcionário Público, o HSE era inaugurado.
Desde sua fundação, o hospital se destacou pelo seu pioneirismo assistencial e educacional. Formou diversos especialistas do país. Médicos vinham de diversas regiões do Brasil para realizar residência médica no HSE, uns inclusive morando nos alojamentos de residente, que existem até hoje. Foi introdutor de um centro de estudos dentro da estrutura hospitalar, com biblioteca e edição de revista médica, destinado ao desenvolvimento técnico-científico de seu corpo clínico. Atualmente, o centro de estudos também possibilita aos médicos e residentes acesso ao portal Up to Date, com casos clínicos, artigos e atualizações.
Por ser um hospital de referência, o HSE recebeu “Classe A” no Sistema Internacional de Classificação de Hospitais e atendeu cinco presidentes da República: José Linhares, Café Filho, Juscelino Kubistcheck, João Goulart e João Baptista Figueiredo. Eles, inclusive, contavam com uma suíte exclusiva que ficava no 11º andar.
Com a extinção do IPASE, em 1977, ele passou a ser gerido pelo INPS (Instituto Nacional de Previdência Social) e depois integrando o Sistema Único de Saúde (SUS), com a gerência passando ao Ministério da Saúde em 1990.
Já a história do serviço de Gastrohepatologia do hospital tem início em 1949, com a chefia do Dr. José Rodrigues da Silva, que depois deu lugar ao Dr. Flávio San Juan. Em 1987, a Dra. Maria de Fátima Alencar Araripe do Amaral (médica residente do serviço em 1961/62) assumiu a chefia passando a mesma para o Dr. Silvando Barbalho que ficou no cargo até setembro de 2007, quando se aposentou. Dr. Paulo de Tarso passou então a ser o chefe do serviço desde então.
“Bom, esse hospital eu trabalhei desde 1962 até me aposentar. Passei toda minha vida de residente, que foram 2 anos de clinica médica e 1 em Gastroenterologia e depois passei para o staff do hospital, no setor da Gastro”.
A declaração acima é do Dr. Silvando Barbalho, ex-chefe do serviço e presidente da Associação de Gastroenterologia do Rio de Janeiro no biênio 1986/87. Sua história na Medicina passa muito pela história do HFSE, como ele próprio retrata:
“Eu me formei em 1962 e logo em janeiro eu já estava inscrito como médico residente do Hospital dos Servidores do Estado do Rio. Eu sou de Pernambuco, do interior do Estado. Eu vim pra cá porque desde aquela época já se falava do Hospital dos Servidores como um hospital de alto padrão, foi até considerado como sendo hospital padrão A, o que realmente mostrava como ele tinha influência nos países da América do Sul e no Brasil, considerado o que tinha de mais moderno. Então, nós viemos para fazer a residência. Uma coisa importante era que o hospital, que estava praticamente no início, já contava com residência médica que obedecia as linhas gerais dos hospitais com residência dos EUA, além de aparelhagem de primeira geração e uma organização muito bem feita, baseada na medicina ocidental. Praticamente toda minha formação médica e quase toda vivência em Medicina foi no Hospital dos Servidores do Estado”, declarou.
Um marco do serviço ocorreu em 1994, quando da edição do livro “Gastroenterologia- Rotinas Terapêuticas”, elaborado pela equipe do setor na época: Dr. Humberto Cortes Fonseca, Dra. Letícia Cancela Nabuco, Dr. Paulo de Tarso de Aparecida Pinto, Dr. Silvando Barbalho Rodrigues e Dra. Vera Lúcia França Corrêa.
Hoje, o serviço conta com 5 residentes (3 R1 e 2 R2) e ambulatório que atende cerca de 600 pacientes por mês, da seguinte forma:
- Gastroenterologia geral (coordenadora: Dra. Letícia Reis);
- Hepatologia (pólo de referência para tratamento de hepatites virais B e C. Coordenação: Dr. Paulo de Tarso);
- Hepatocarcinoma (coordenadora: Dra. Cássia Regina Guedes Leal);
- Doenças Inflamatórias Intestinais (coordenador: Dr. Bernardo Junger)
Para diagnosticar os pacientes, o serviço conta com toda a estrutura do hospital e das outras especialidades médicas presentes, como a radiologia intervencionista e a Medicina nuclear. Além disso, dá pareceres sobre gastro-hepatologia para os demais setores do hospital, sempre que necessário.
Na enfermaria, os médicos do serviço dão assistência a 12 leitos, em média.
Diariamente há seções clínicas com os médicos e residentes debatendo casos clínicos e artigos, além dos rounds para abordar os pacientes em tratamento.
STAFF
- Paulo de Tarso de Aparecida Pinto (chefe do serviço)
- Letícia Vellozo dos Reis
- Cassia Regina Guedes Leal
- Bernardo da Cruz Junger de Carvalho
- Eliane do Valle
- Mariana Castilhos
- Maria Fernanda Calpellão
RESIDENTES
- Isabor Santanna (R2)
- Shaloane Fontes (R2)
- Laís Arrivabene (R1)
- Larissa Rodrigues (R1)
- Raíssa Warrak (R1)
NÚMEROS
O HFSE conta com 107.000 m 2 de área construída, 450 leitos de internação, centro cirúrgico com 20 salas e mais de 50 serviços de especialidades médicas.
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